Bem muita gente babaca estava execrando o filme desde que foi anunciado essa reformulação da série (que foge de Wolwerine e companhia) e lançou a proposta de "origem" dos mutantes, ela apostou e acertou (acertou em cheio) mesmo com esses "novos-velhos" mutantes dessa nova safra, mas muita gente ainda reclama que não são os originais (pois os originais são o Professor Charles Xavier "professor X", Cyclope, Anjo, Fera, Garota Marvel "Jean Grey" e o Homem de Gelo).
Não precisa chiar bando de mimados, eles fizeram um reboot dos x-mens e que reboot. Nos anos 60 surgia as criações de Stan Lee, Jack Kirby e Steve Ditko, os "hómi" sagrados da Marvel Comics. Nesse novo universo, os heróis - ainda que continuassem coloridos e divertidos (e não Restart) - viviam em cidades que existiam no mundo real e tinham problemas mais próximos dos nossos (Menos imposto de renda). Do atormentado Coisa ao fracassado Peter Parker, os heróis da casa sofriam na pele (rochosa ou não) agruras cotidianas enquanto enfrentavam os "vilão". Foi nesse momento histórico que surgiram os X-Men, heróis temidos e odiados pela mesma humanidade que juraram defender. A raça mutante de que fazem parte viveu desde o início uma cisão de ideias, representada pelos antagonistas Charles Xavier, o telepata mais poderoso do mundo, e Magneto, o mestre do magnetismo (inspirados livremente nos debates ideológicos da época de Martin Luther King e Malcolm X pelos direitos dos negros). Enquanto Xavier acreditava na convivência pacífica entre humanos e mutantes, o terrorista tinha a certeza da supremacia de sua raça, considerada o próximo degrau na evolução da espécie, e desejava escravizar o homo sapiens.
O primeiro encontro deles durou apenas exatos dois quadrinhos da terceira edição das revista, mas deixou um legado que cruzou os 50 anos seguintes. A questão central dos mutantes tornou-se a aceitação. A da sociedade e também a dos mutantes por si próprios. É esse também o tema central de X-Men - Primeira Classe (X-Men - First Class, 2011), filme que reinicia a franquia dos personagens no cinema tendo como pano de fundo justamente a década de 1960. O debate, claro, já existia nos primeiros filmes da série, o que faz sentido se considerarmos que o principal responsável pela adaptação desse universo ao cinema, Bryan Singer, está de volta a bordo. Mas nunca tão focado quanto agora. Ao lado de Singer estão Ashley Miller, Zack Stentz, Jane Goldman e o diretor e corroteirista Matthew Vaughn (Kick-Ass). Tantos nomes assinando um só roteiro geralmente é sinônimo de um texto que não sabe para onde ir. Não é o caso aqui.
O novo X-Men não apenas é um filme divertidíssimo de verão, cheio de ação, humor e aventura, mas também um drama sério nos momentos certos. Especialmente em relação aos personagens, cujo desenvolvimento vai diretamente ao encontro do debate central dos mutantes. A utilização da personagem Mística (Jennifer Lawrence, em atuação que cresce com o decorrer do filme) é determinante nesse sentido. Transmorfa, a garota tem uma aparência real hedionda - escamosa, com olhos amarelos. Dada a natureza de seu poder - transformar-se em outra pessoa -, porém, ela consegue esconder-se o tempo todo. Mas como alcançar seu potencial se você vive sua vida concentrando-se em ser alguém que não é? A questão - de rara profundidade em um filmão de grande orçamento - também atinge outros personagens, quase todos excepcionalmente bem trabalhados e desenvolvidos.
É inspiradora a maneira como o filme não trata o assunto como mera desculpa para demonstrações de poder e embates entre os mutantes bonzinhos e os malvados. Prepare-se, assim, para adorar o personagem que nos quadrinhos é o maior terrorista do Universo Marvel: Erik Lehnsher, o Magneto. Michael Fassbender, que já havia mostrado a que veio em Bastardos Inglórios e Hunger, aqui tem sua chance de tornar-se um astro de primeiro escalão - e a agarra sem receios. No início uma espécie de James Bond magnético, ele precisa lidar com outro tipo de aceitação, a de seu passado. Erik não é mau, é apenas focado em seu ódio, algo com o qual podemos nos relacionar desde a cena de abertura. Como não odiar o nazista que matou sua família e desejar caçá-lo ao redor do planeta?
Graças à qualidade do trabalho de Fassbender, uma obsessão doentia nunca pareceu tão bacana. Magneto não estaria completo sem seu nêmesis (razão pela qual o alardeado filme-solo do mutante talvez não funcionasse) - e James McAvoy tem um desempenho igualmente brilhante como Charles Xavier, o Professor X. O roteiro e a atuação do escocês simplesmente transformam um dos personagens mais patriarcais e sérios dos quadrinhos em alguém muito diferente. É como se você pudesse conhecer seu pai antes de ele casar com sua mãe. Além das qualidades professorais, Charles é engraçado, charmoso, bon vivant e cheio de entusiasmo e otimismo.
É também repleto de falhas, todas essenciais para o funcionamento do tema. As raízes do "bem" e do "mal" em X-Men - Primeira Classe, portanto, são emaranhadas em um solo fértil de situações inteligentes. É muito mais interessante o debate quando ambos os lados argumentam com razão e, ainda que antagônicos, pareçam igualmente corretos aos olhos do observador. Todos os momentos em que McAvoy e Fassbender dividem a tela já valeriam a produção, mas entra em cena o terceiro vértice do triângulo, o de Sebastian Shaw de Kevin Bacon - e o filme só melhora. O vilão, cercado de excentricidades dignas dos personagens que davam trabalho a James Bond antes dos tempos de Daniel Craig, traz o elemento indispensável a qualquer filme de quadrinhos que se preze. O líder do misterioso Clube do Inferno tem os mutantes mais glamurosos, um submarino tunado e, claro, um plano maligno mirabolante - devidamente explicadinho e com direito ao "power point" de época. Depois de tantos debates e questões filosóficas, um bandido sacana e playboy pra surrar durante um clímax explosivo nunca é demais.
Com o foco em Xavier, Magneto e Mística, é surpreendente que ainda sobre tempo para explorar outros personagens secundários, mas o roteiro dá o que fazer a quase todos. Emma Frost (January Jones) tem espaço de sobra como a ajudante exótica de Shaw (que também conta com os meramente alegóricos Azazel e Maré Selvagem, cujas presenças se justificam exclusivamente pela ação e o visual). Mas quem conhece a personagem de Jones dos quadrinhos não deve gostar do resultado.
A Rainha Branca sempre foi manipuladora, inteligente e extremamente sedutora nas HQs. Aqui, a atriz se restringe a repetir sua cara de blasé de Mad Men, um dos únicos pontos fracos da cultuada série. Já a dinâmica da "primeira classe" - formada por Destrutor (Lucas Till), Fera (Nicholas Hoult), Banshee (Caleb Landry Jones), Darwin (Edi Gathegi) e Angel (Zoe Kravitz) - dá o tom do humor que o filme precisa para se estabelecer também como entretenimento descontraído e ao mesmo tempo buscar o público mais novo. Algo que fica claro na cena em que eles se reúnem pela primeira vez e, como jovens que são, começam a se mostrar.
Os poderes que eles demonstram ali - e em uma das cenas seguintes, com o ataque do Clube do Inferno - são fundamentais para o competentíssimo clímax. Nele, Vaughn consegue lidar com vários focos de ação ao mesmo tempo: um combate aéreo, outro de intensa fisicalidade, a tensão da Crise dos Mísseis de Cuba e o confronto principal, que culmina em uma ótima cena, a da moeda acompanhada pela câmera, cujo movimento reflete também a irreversível cisão de valores dos personagens principais. Nas ideias, na diversão e no design, X-Men - Primeira Classe resgata conceitos do passado dos quadrinhos ao cinema de super-heróis. É como se, pela primeira vez, todas as "Eras" da Nona Arte e suas adaptações conseguissem dialogar no cinema. Há os uniformes bregas e coloridos, a pancadaria pirotécnica, o vilão maluco e os poderes estilosos... mas há também a sobriedade de temas, a qualidade dos personagens e o drama.
Em X-Men - Primeira Classe a aceitação não se restringe aos mutantes, mas também aos próprios "comic books" sabendo trabalhar seu lado mais "comic"... dentro e fora da tela. Então galera os mutantes levam 10 "concerveja" e espero que os mais babacas saiam do cinema arrependidos do que falaram no inicío do ano, os X-Men foram Fuck Yea em 2011 (ahushuashusauhusahhashusahsasha Toma no cú arrogantes!!!).
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